Apesar de notórios avanços observados na indústria farmacêutica, no que concerne ao desenvolvimento de fármacos, ainda hoje, nota-se que produtos naturais derivados da biodiversidade correspondem a uma fração importante dos novos medicamentos lançados no mercado. Estima-se que cerca de 20% dos novos fármacos são oriundos da biodiversidade ou são frutos de modificações químicas nas estruturas naturais, obtidas a partir de espécimes biológicos, tais como venenos, microrganismos, extratos fitoquímicos, etc. Tradicionalmente, a descoberta e o emprego desses produtos possuem fortes laços com a medicina e o conhecimento tradicional, porém esse cenário vem sendo atualizado com a implantação de modernos métodos científicos e experimentais de triagem e de automação.

O desenvolvimento de novos medicamentos é um processo dispendioso e complexo que envolve gastos crescentes, desde o momento em que uma molécula inovadora avança pelos estágios científicos e regulatórios até o ponto em que ela é aprovada para a comercialização (NCE – new chemical entity). Estima-se que apenas um entre, aproximadamente, 10.000 compostos inovadores chegará ao mercado a um custo da ordem de um bilhão de dólares por molécula (Kessel M, 2007; Hughes JP, 2010; Swinney DC, 2011).

Nossa equipe foi agraciada com recursos de fomento (inovação no desenvolvimento e na produção de antitrombóticos derivados de venenos de serpentes brasileiras — edital de subvenção econômica da FINEP, no ano de 2008, convênio: 01.09.0432.00) para o desenvolvimento de projeto de prospecção biotecnológica em colaboração com cientistas e professores do Instituto de Bioquímica Médica e do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dentro dos preceitos estabelecidos pela Lei de Inovação científica (atual marco legal Decreto nº 9.283, de 2018).

Desse projeto resultou a identificação de uma proteína inédita que apresenta surpreendente efeito anti-inflamatório nos paradigmas experimentais testados. A proteína encontrada na peçonha de serpentes Bothrops jararaca, denominada que serviu de modelo molecular tridimensional para síntese farmoquímica de moléculas macrocíclicas, cujas atividades biológicas reproduzem os efeitos anti-inflamatórios observados com a proteína intacta. O trabalho realizado até o momento constitui a prova de conceito para que se estabeleça um programa de desenvolvimento de fármacos, utilizando as estruturas macrocíclicas derivadas da UN01575RJ como moléculas líderes no processo de otimização de uma nova entidade molecular (NME) que atenda os critérios de eficácia e segurança exigidos mundialmente pelas agências sanitárias.

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